Gabriel Medina
Segundo o dicionário Aurélio, cultura é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade; civilização.
Pode também ser compreendida como a produção de signos e símbolos da humanidade, é através dela que o ser humano expressa sua criatividade, seu potencial e transforma a realidade. Muitas vezes se compreende a cultura apenas como as produções artísticas, mas a cultura é muito mais ampla, está presente na arquitetura, na culinária, na moda, na literatura e nas formas de relacionamento e sociabilidade.
A juventude vem sendo alvo de um intenso bombardeamento cultural cooptado pelo capital, expresso pelo estímulo ao consumo propagados pelos veículos de comunicação e pelo marketing. Um forte instrumento de dominação e aprisionamento de subjetividades, constituídas de forma isolada e fragmentada.
Vivemos um processo de ultravalorização da juventude, produtos e marcas reforçam a necessidade de ser jovem por um período mais alargado e criam-se formulas mágicas para o rejuvenescimento e manutenção de uma estética corporal de academia.
As manifestações artísticas que sempre representaram a vanguarda de movimentos de mudança e transformação vem sendo cada vez mais extintas, dando lugar a produções formatadas pelo mercado cultural, de grandes produtoras, intimamente ligadas a grandes agências de marketing e comunicação.
A arquitetura começa a se voltar a transformar os laços societários, elaborando projetos arquitetônicos que estimulam o desencontro e a rápida circulação de pessoas, os espaços não contemplam mais locais de conversa, de descanso, de troca e se transformam em passagens, para que em ritmo frenético os cidadãos circulem para o trabalho e para a casa.
O processo de avanço do neoliberalismo e da globalização vem intensificando a extinção das culturas locais e tradicionais com a imposição de uma cultura de massa, tem também gerado um movimento de resistência e afirmação de identidades coletivas. Atualmente diversos jovens vêm se organizando em movimentos culturais e artísticos, seja com a formação de bandas, de grupos de afinidade, como o skate, a capoeira, grupos políticos, torcidas de futebol, etc. Nem todas as formas de organização e atuação apontam para um rompimento com os padrões estéticos do capital e em muitos casos surgem como transgressão, mas são facilmente cooptados e incorporados pelo sistema.
Nesse sentido a implementação de uma política cultural para a juventude deve criar espaços e instrumentos para o desenvolvimento das distintas expressões independentes dos jovens. Deve também garantir mecanismos para a criação e difusão da produção independente, associada a uma ação para democratizar os veículos de comunicação e informação.
Uma política pública de juventude deve ser em sua essência participativa e assegurar canais de participação dos produtores e agentes culturais, com a criação de fóruns, conselhos, com iniciativas como as do Governo Federal, que iniciou um processo de debate com a realização das Conferências Municipais, Estaduais e Nacional que culminou com a criação de um Plano Nacional de Cultura e também de um Plano Nacional de Juventude.
No Estado de São Paulo, um dos desafios a ser enfrentado pelo próximo governo, é a centralização da produção e acesso a capital de São Paulo (que também é centralizada, deixando os jovens de periferia sem alternativas) e em menor medida ao macro-região de São Paulo. É preciso descentralizar a produção, erradiar a cultura pelo Estado, que possui distintas regiões e locais onde faltam equipamentos, fomento e estrutura para o desenvolvimento do potencial criativo regional.
Existem um conjunto de cidades pequenas e médias sem cinema, teatro, centro cultural e que em muitos casos são fechados e dão lugar a Igrejas Evangélicas, como no caso de Araraquara, onde um cinema histórico foi comprado pela Assembléia de Deus.
É possível pensar na realização de caravanas culturais combinadas com programas de formação de público em áreas específicas que são de extrema relevância, como no caso do teatro, cinema, dança, artes plásticas, segmentos das artes com pouca visibilidade e circulação.
O Programa Pontos de Cultura do governo Lula é uma experiência interessante nesse sentido, que além de apostar no resgate do patrimônio histórico e preservação da cultura local, aposta no desenvolvimento econômico regional.
“Ele é a referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas e vontades criadoras. Uma pequena marca, um sinal, um ponto sem gradação hierárquica, um ponto de apoio, uma alavanca para um novo processo social e cultural. Como um mediador na relação entre Estado e sociedade, e dentro da rede, o Ponto de Cultura agrega agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades, e destas entre si.”[1][1]
Trata-se de um programa intersetorial entre os Ministérios da Cultura e do Trabalho, irá atingir aproximadamente 100 mil jovens de famílias de baixa renda, que receberão bolsas de estudo para o aprendizado e o desenvolvimento de atividade culturais nas suas comunidades.
Aí fica claro a distinta concepção de cultura do PT para o PSDB, que no Estado de São Paulo privilegia apenas o fomento a cultura erudita, no qual temos como marca o “Festival Internacional de Inverno de Campos de Jordão”, voltado à elite paulistana que pode deslumbrar-se com os hotéis e restaurantes de luxo e com o requinte das famosas orquestras. É importante dizer que Alckimin promoveu um desmonte da política cultural no Estado, parte significativa dos equipamentos públicos, como teatros e museus passaram a ser administrado pelas Organizações Sociais, assim como os trabalhadores foram para a rua.
Sem dúvida alguma, há de se valorizar a cultura erudita, a música clássica, o cinema contemporâneo, mas é necessário ampliar o acesso da maioria da população brasileira, atualmente pautadas pelas grandes rádios, com o Axé, o Funk e o pagode. Assim como a valorização da cultura popular, como a viola caipira, como o samba, a folia de reis, manifestações tradicionais da cultura paulista e também promover o intercâmbio cultural dos diferentes Estados, assim como concebido na rede horizontal dos pontos de cultura.
Um aspecto a ser considerado na elaboração de uma política de Estado, é a construção de uma nova cultura política, pautada na solidariedade, no respeito às diferenças, consolidando novos valores e formas de sociabilidade, pautadas no combate a homofobia, ao machismo e a discriminação étnica- racial.
É preciso afirmar no campo da cultura nossa distinta concepção de mundo, a nossa luta contra a hegemonia do capital e de suas formas de dominação, implementando uma política cultural de Estado que ajude a sociedade resistir ao pensamento único, a imposição dos padrões estéticos das grandes potências e contribuindo para a reafirmação de nossa cultura, de nossos valores, de nossa história, possibilitando que a multiplicidade cultural brasileira sobreviva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário