Por Gabriel Medina
De forma expressiva na última década, os jovens começam a buscar formas alternativas de organização e de expressão diante de um conjunto de necessidades, fruto dos problemas decorrentes do processo de exclusão que atingem a juventude cada vez mais e de forma insustentável.
Há no conjunto da sociedade uma construção conceitual a respeito deste período da vida, influenciado pelas produções acadêmicas sobre o tema, que em sua maioria naturalizam a condição juvenil, vista como um período problemático, no qual se manifestam comportamentos de risco e atitudes anti-sociais e ou uma parte da vida onde possa se fazer tudo, um certo fetichismo da condição juvenil, o que decorre desta interpretação é a pouca valorização de projetos, iniciativa e do empreendedorismo das juventudes.
Em função deste imaginário social construído, as políticas de juventude desenvolvidas nas últimas décadas têm as seguintes características:
a) são voltadas a contenção social, ao controle, com forte viés voltada a segurança pública;
b) a juventude deve ter sua socialização em ambientes voltados a adequação destes jovens as instituições do mundo adulto;
c) a políticas foram em sua maioria formuladas e executadas por técnicos, o que elimina a identificação destes jovens com a política pública e também elimina o protagonismo dos mesmos;
Através do modelo educacional o sistema atual dissemina sua ideologia, pautada na competição, no individualismo e na apatia. A prioridade é produzir jovens acríticos e voltados a adequação as formas capitalista de produção, através de um trabalho subordinado e com super-exploração, principalmente pelos avanços da flexibilização do trabalho implementado em nosso país durantes os anos do neoliberalismo, que tem como um de seus grandes símbolos os jovens trabalhadores do Mcdonalds.
Entretanto, atualmente vivemos uma crise de reprodução social, onde os jovens não só não tem as mesmas oportunidades que seus pais, como suas possibilidades de futuro, o que faz com que milhares de jovens tenham baixa auto- estima e uma forte insegurança em relação a suas perspectivas de vida.
Esta situação faz com que as juventudes tenham em torno de si, uma baixa perspectiva de grandes transformações, alem é claro, de fazer com que muitos vão para a criminalidade.
O neoliberalismo além de anular as perspectivas de construção de autonomia com qualidade de vida contribui para a construção de uma imagem juvenil centrada na delinqüência, na barbárie, apresentando-a como uma afronta à sociedade.
O atual contexto exige a urgente elaboração de um conceito sobre juventude que se contraponha as produções teóricas conservadoras para que possam subsidiar uma nova forma de entender a juventude que contribua na elaboração de um projeto de sociedade que considere a juventude um setor estratégico na luta pelo socialismo democrático, favorecendo o estímulo a participação política e a construção de políticas de juventude emancipatórias e libertadoras.
Definir o que é ser jovem parece uma tarefa fácil, já que todos compartilhamos de uma noção social sobre o tema, por conhecermos jovens, termos opiniões e idéias sobre a juventude. Além disso, essa noção social é construída de um lado pela mídia que utiliza imagens estereotipadas e pelo outro de produções científicas, inclusive as psicológicas e sociais sobre esse segmento populacional. Desse modo, para construirmos uma definição da juventude são necessárias leituras que superem mitos e sensos comuns.
A juventude é vista pela sociedade como um período homogêneo, marcada por mudanças físicas e biológicas e que se manifesta igualmente na vida de todas as pessoas independentes do tempo histórico, do país em que vivem ou da cultura a qual fazem parte. Contudo numa visão sócio- histórica, a juventude não pode ser considerada como uma etapa natural do desenvolvimento humano, mas sim como uma fase do desenvolvimento da sociedade moderna ocidental, que não é universal, nem natural, mas sim histórica.
Com o surgimento da revolução industrial, a sociedade passou por transformações nas formas de vida e do trabalho. O avanço tecnológico acabou por gerar uma demanda de um maior tempo de formação dos jovens nas escolas, afastando-os do mercado de trabalho. A mecanização das indústrias gerou uma substituição da força de trabalho, causando um desemprego estrutural que cria novas condições para o ingresso no mercado exigindo maior capacitação. O avanço da medicina garantiu maior tempo de vida às pessoas, necessitando manter os trabalhadores por maior tempo na atividade produtiva. Tais situações criaram condições específicas para uma etapa da vida que aproximam um grupo de iguais, e é onde surge a juventude.
A Medicina, assim como a Psicologia, também contribuiu com a elaboração de referenciais teóricos padronizados e universais, baseando-se nos aspectos relacionados ao biológico. As marcas do corpo que se desenvolve física e biologicamente são apropriadas como sinais e não deveriam ser consideradas como geradoras da adolescência. Contudo, as mudanças do corpo acabam servindo a padronização do jovem, por isso é comum a definição do que é ser jovem baseada apenas nas mudanças hormonais e físicas como, por exemplo, o surgimento de pêlos, crescimento das mamas e alteração da voz, que surgem em qualquer tempo ou espaço. Essa é uma concepção impregnada da visão estática e naturalizante, que não corresponde à condição juvenil, por desprezar o contexto processual e dialético da subjetividade humana.
O aparecimento de características conhecidas como constituintes da juventude como: a rebeldia, conflito geracional, indefinição de identidade e onipotência, emergem por meio da contradição entre a plena capacidade de inserção no mundo do trabalho, na conquista da autonomia e a realidade que os exclui do ingresso no trabalho, da independência financeira e da entrada no mundo social adulto, e não próprio de uma natureza conflitante de aflorar em meados na juventude. Na atualidade, a juventude tem presenciado situações diferentes do que os jovens de trinta anos atrás vivenciaram, configurando um novo contexto relacionado às mudanças econômicas, políticas e sócio-culturais, que abrem um espaço para o aparecimento de outras possibilidades de ser jovem no Brasil e no mundo.
Assim, o conceito de juventude, aparece, combinando diversas esferas que passam pelo período da vida, pelas mudanças biológicas (no corpo, na face, no timbre de voz), mas que se realizam, na relação e no processo histórico, fazendo com que o mesmo, não seja um conceito fechado, mas sim, um conceito vivo, fundado nas relações sociais, estéticas e políticas.
Nos dias de hoje existem novos fatores que interferem na condição juvenil que, pouco a pouco, vão consolidando espaço para o aparecimento de novas subjetividades. Esses fatores como a globalização, as novas tecnologias da informação influenciam nas novas relações entre pais e filhos marcadas em menor intensidade pela autoridade e submissão, evidenciando a crise da família tradicional. Também aponta outro aspecto que se refere à perda da mobilidade e ascensão social, que promoveu a expansão da educação secundária e universitária acompanhada da perda de legitimidade das instituições educacionais, que não são mais vistas como etapa fundamental para o ingresso na vida adulta.
O fato é que com o desenvolvimento da sociedade capitalista, o avanço da acumulação do capital gerou uma crise estrutural no mundo de trabalho, que tem sido incapaz de dar condições dignas as pessoas e principalmente de inserir as novas gerações.
É a partir dessa realidade que se torna central nos contrapormos o modelo capitalista de produção, comercialização e consumo, com um modelo alternativo, que é um modelo de organização econômica que se baseia no trabalho coletivo e emancipado. É através da economia popular e solidária, da extinção da relação patrão-funcionário que podemos gradualmente construir uma nova cultura do trabalho, cooperativa e solidária.
Para uma mudança ideológica do conceito de juventude é necessário reconhecer que as concepções dominantes são insuficientes para dar conta da realidade da juventude brasileira e na sua maioria se apresentam com referenciais que sustentam a subordinação e alienação.
Isso ocorre porque a sociedade brasileira, que realizou uma transição negociada entre o regime ditatorial e o democrático, deixou praticamente intacto as visões e as instituições voltadas a juventude, vide o caso das FEBENs, estabelecendo práticas autoritárias e mantendo relações sociais de subordinação, as quais só os adultos têm poder, mantendo relações assimétricas.
A juventude ainda é vista como uma fase passageira, sendo assim desvalorizada porque seus projetos a cerca do futuro são compreendidos como provisórios, frutos de um tempo de imaturidade e, portanto, não devendo ser levados a sério. A sociedade pressiona os jovens quanto aos seus projetos futuros, como o que querem ser quando adultos, a juventude, por exemplo, e a juventude em si, no seu momento atual e nas suas ações cotidianas ficam desvalorizadas e por vezes invisíveis. Ao jovem é permitido curtir a vida, não precisando e não devendo assumir responsabilidades, nesse sentido não contribui com o desenvolvimento da sociedade, e com isso a sociedade se isenta de pensar em políticas de juventude, dado que este grupo social é passageiro.
Podemos dizer que juventude é uma fase mais ou menos determinada etariamente da gênese da personalidade, da formação da opinião política, gosto artístico, visões religiosas, aprimoramento da psiquê. É a intermédia de duas etapas do desenvolvimento individual - a heteronomia e a autonomia - consideradas tanto em nível psicossocial (opiniões formadas, gostos apurados, determinações emocionais e profissionais), como econômico (dependência, semidependência e independência financeira).
Mas, juventude também é um grupo social transversal a todos os setores de múltiplas identidades e opressões econômicas, étnicas, culturais, de orientação sexual, de gênero e de condição física. Em cada segmento conformam-se necessidades específicas que se somam às necessidades gerais da condição juvenil, existindo jovens em várias dimensões simultaneamente oprimidos.
Por isso, a juventude é o segmento mais vulnerável e sensível às mazelas engendradas pelo capitalismo, foco condensado de tantas contradições e, por conseqüência, demandas.
Atualmente, observamos que a intensificação de um discurso que trata a participação da juventude como importante o que tem se chamado de “protagonismo juvenil”, tido como o voluntariado. É o jovem engajado para ajudar a amenizar conflitos e desigualdades sociais, associando-os ao trabalho de ONGs que sobrevivem da ideologia do “bom burguês” e sua disposição filantrópica estimulada pelos ganhos fiscais dessa “boa índole” e dos repasses estatais de governos, cujo programa prevê a terceirização das funções estatais e do próprio Estado.
No partido, militância orgânica só nos dias de votação. Juventude não é tática e nem estratégica. É simplesmente o grupo de desocupados, os agitadores de comícios, os pintores de faixas, os ajudantes de alguma eleição de conselho tutelar ou sindicato.
Para nós revolucionários socialistas, o protagonismo juvenil vai além do voluntariado e consiste na formação da juventude enquanto força social sem intermediários para a transformação social e a construção do socialismo democrático.
Dogmática em larga medida, a visão predominante na esquerda revolucionária pode ser sintetizada no seguinte: "a juventude e seus espaços são táticos para a construção do socialismo”. Muitos são os partidos de esquerda que afirmam a juventude como protagonista das principais lutas históricas, momento da vida no qual a ousadia, a rebeldia se manifestam, portanto um setor estratégico para a organização da luta socialista. O problema desta concepção é que se homogeniza a condição juvenil e além de ser um tanto quanto utilitarista dessa “energia para a luta”, acaba por não garantir as especificidades desse momento da vida.
É central para nós do PT, entender que a classe trabalhadora sofre nas últimas décadas uma sucessiva perda de direitos e flexibilização do trabalho e que a juventude vem sendo o setor mais atacado por esse processo.
Muitas das políticas implementadas não ferem os trabalhadores do agora, mas sim os que virão, já que a juventude representa um setor extremamente vulnerável do ponto de vista de sua organização e capacidade de incidir sobre os rumos de seus destinos.
É fácil verificar essa situação, já que na sua maioria os salários dos jovens são os mais baixos, precarizados e as oportunidades geralmente são de trabalho informal sem garantia de direitos, isso quando o jovem consegue entrar no mercado, já que se reproduz o ciclo da inexperiência: as empresas não contratam porque não tem experiência e se não são contratados nunca a terão.
A partir daí, é possível verificar a centralidade que ganha a juventude na organização da luta de classes, temos um contingente enorme de jovens proletários que precisam ser organizados para a luta socialista, mas é central que o partido tenha a capacidade de assegurar espaço para suas reivindicações e demandas que extrapolam as reivindicações do proletariado enquanto classe.
Portanto, é fundamental que tenhamos capacidade de organizar a juventude a partir de suas formas de manifestação e demandas específicas, mas articularmos com a luta dos trabalhadores a fim de garantir os direitos adquiridos, bem como lutar por melhorar as condições de vida do conjunto da classe, assim garantindo maior extração da mais valia social.
Os movimentos culturais juvenis, o ativismo ambientalista, os empreendimentos e cooperativas da economia popular e solidária, o campo da saúde, se mostram como novos espaços de aglutinação e militância de jovens, que devem ser nossos aliados no próximo período. Mais do que isso, é preciso superar práticas que também foram incorporadas pelas nossas direções partidárias e conseqüentemente pela juventude, para que possamos resgatar a esperança e a confiança da juventude e do povo brasileiro na possibilidade de consolidar uma nova cultura política, pautada na democracia, na ética e no respeito às diferenças.
Os nossos desafios são grandes e passam pela construção de canais de diálogos e formação de consensos a partir da diversidade da JPT e da juventude, consolidando um campo amplo, no qual possamos ser a direção política.
Nesse sentido, é importante que além de ampliarmos nossas discussões, possamos estabelecer um diálogo constante, no qual difundiremos a importância da luta pelo socialismo e pela construção de uma anti-hegemonia ao avanço do neoliberalismo.
É preciso que convençamos os jovens da importância da organização coletiva, em conjunto com outros movimentos sociais e a classe trabalhadora por justiça social e solidariedade.
De forma expressiva na última década, os jovens começam a buscar formas alternativas de organização e de expressão diante de um conjunto de necessidades, fruto dos problemas decorrentes do processo de exclusão que atingem a juventude cada vez mais e de forma insustentável.
Há no conjunto da sociedade uma construção conceitual a respeito deste período da vida, influenciado pelas produções acadêmicas sobre o tema, que em sua maioria naturalizam a condição juvenil, vista como um período problemático, no qual se manifestam comportamentos de risco e atitudes anti-sociais e ou uma parte da vida onde possa se fazer tudo, um certo fetichismo da condição juvenil, o que decorre desta interpretação é a pouca valorização de projetos, iniciativa e do empreendedorismo das juventudes.
Em função deste imaginário social construído, as políticas de juventude desenvolvidas nas últimas décadas têm as seguintes características:
a) são voltadas a contenção social, ao controle, com forte viés voltada a segurança pública;
b) a juventude deve ter sua socialização em ambientes voltados a adequação destes jovens as instituições do mundo adulto;
c) a políticas foram em sua maioria formuladas e executadas por técnicos, o que elimina a identificação destes jovens com a política pública e também elimina o protagonismo dos mesmos;
Através do modelo educacional o sistema atual dissemina sua ideologia, pautada na competição, no individualismo e na apatia. A prioridade é produzir jovens acríticos e voltados a adequação as formas capitalista de produção, através de um trabalho subordinado e com super-exploração, principalmente pelos avanços da flexibilização do trabalho implementado em nosso país durantes os anos do neoliberalismo, que tem como um de seus grandes símbolos os jovens trabalhadores do Mcdonalds.
Entretanto, atualmente vivemos uma crise de reprodução social, onde os jovens não só não tem as mesmas oportunidades que seus pais, como suas possibilidades de futuro, o que faz com que milhares de jovens tenham baixa auto- estima e uma forte insegurança em relação a suas perspectivas de vida.
Esta situação faz com que as juventudes tenham em torno de si, uma baixa perspectiva de grandes transformações, alem é claro, de fazer com que muitos vão para a criminalidade.
O neoliberalismo além de anular as perspectivas de construção de autonomia com qualidade de vida contribui para a construção de uma imagem juvenil centrada na delinqüência, na barbárie, apresentando-a como uma afronta à sociedade.
O atual contexto exige a urgente elaboração de um conceito sobre juventude que se contraponha as produções teóricas conservadoras para que possam subsidiar uma nova forma de entender a juventude que contribua na elaboração de um projeto de sociedade que considere a juventude um setor estratégico na luta pelo socialismo democrático, favorecendo o estímulo a participação política e a construção de políticas de juventude emancipatórias e libertadoras.
Definir o que é ser jovem parece uma tarefa fácil, já que todos compartilhamos de uma noção social sobre o tema, por conhecermos jovens, termos opiniões e idéias sobre a juventude. Além disso, essa noção social é construída de um lado pela mídia que utiliza imagens estereotipadas e pelo outro de produções científicas, inclusive as psicológicas e sociais sobre esse segmento populacional. Desse modo, para construirmos uma definição da juventude são necessárias leituras que superem mitos e sensos comuns.
A juventude é vista pela sociedade como um período homogêneo, marcada por mudanças físicas e biológicas e que se manifesta igualmente na vida de todas as pessoas independentes do tempo histórico, do país em que vivem ou da cultura a qual fazem parte. Contudo numa visão sócio- histórica, a juventude não pode ser considerada como uma etapa natural do desenvolvimento humano, mas sim como uma fase do desenvolvimento da sociedade moderna ocidental, que não é universal, nem natural, mas sim histórica.
Com o surgimento da revolução industrial, a sociedade passou por transformações nas formas de vida e do trabalho. O avanço tecnológico acabou por gerar uma demanda de um maior tempo de formação dos jovens nas escolas, afastando-os do mercado de trabalho. A mecanização das indústrias gerou uma substituição da força de trabalho, causando um desemprego estrutural que cria novas condições para o ingresso no mercado exigindo maior capacitação. O avanço da medicina garantiu maior tempo de vida às pessoas, necessitando manter os trabalhadores por maior tempo na atividade produtiva. Tais situações criaram condições específicas para uma etapa da vida que aproximam um grupo de iguais, e é onde surge a juventude.
A Medicina, assim como a Psicologia, também contribuiu com a elaboração de referenciais teóricos padronizados e universais, baseando-se nos aspectos relacionados ao biológico. As marcas do corpo que se desenvolve física e biologicamente são apropriadas como sinais e não deveriam ser consideradas como geradoras da adolescência. Contudo, as mudanças do corpo acabam servindo a padronização do jovem, por isso é comum a definição do que é ser jovem baseada apenas nas mudanças hormonais e físicas como, por exemplo, o surgimento de pêlos, crescimento das mamas e alteração da voz, que surgem em qualquer tempo ou espaço. Essa é uma concepção impregnada da visão estática e naturalizante, que não corresponde à condição juvenil, por desprezar o contexto processual e dialético da subjetividade humana.
O aparecimento de características conhecidas como constituintes da juventude como: a rebeldia, conflito geracional, indefinição de identidade e onipotência, emergem por meio da contradição entre a plena capacidade de inserção no mundo do trabalho, na conquista da autonomia e a realidade que os exclui do ingresso no trabalho, da independência financeira e da entrada no mundo social adulto, e não próprio de uma natureza conflitante de aflorar em meados na juventude. Na atualidade, a juventude tem presenciado situações diferentes do que os jovens de trinta anos atrás vivenciaram, configurando um novo contexto relacionado às mudanças econômicas, políticas e sócio-culturais, que abrem um espaço para o aparecimento de outras possibilidades de ser jovem no Brasil e no mundo.
Assim, o conceito de juventude, aparece, combinando diversas esferas que passam pelo período da vida, pelas mudanças biológicas (no corpo, na face, no timbre de voz), mas que se realizam, na relação e no processo histórico, fazendo com que o mesmo, não seja um conceito fechado, mas sim, um conceito vivo, fundado nas relações sociais, estéticas e políticas.
Nos dias de hoje existem novos fatores que interferem na condição juvenil que, pouco a pouco, vão consolidando espaço para o aparecimento de novas subjetividades. Esses fatores como a globalização, as novas tecnologias da informação influenciam nas novas relações entre pais e filhos marcadas em menor intensidade pela autoridade e submissão, evidenciando a crise da família tradicional. Também aponta outro aspecto que se refere à perda da mobilidade e ascensão social, que promoveu a expansão da educação secundária e universitária acompanhada da perda de legitimidade das instituições educacionais, que não são mais vistas como etapa fundamental para o ingresso na vida adulta.
O fato é que com o desenvolvimento da sociedade capitalista, o avanço da acumulação do capital gerou uma crise estrutural no mundo de trabalho, que tem sido incapaz de dar condições dignas as pessoas e principalmente de inserir as novas gerações.
É a partir dessa realidade que se torna central nos contrapormos o modelo capitalista de produção, comercialização e consumo, com um modelo alternativo, que é um modelo de organização econômica que se baseia no trabalho coletivo e emancipado. É através da economia popular e solidária, da extinção da relação patrão-funcionário que podemos gradualmente construir uma nova cultura do trabalho, cooperativa e solidária.
Para uma mudança ideológica do conceito de juventude é necessário reconhecer que as concepções dominantes são insuficientes para dar conta da realidade da juventude brasileira e na sua maioria se apresentam com referenciais que sustentam a subordinação e alienação.
Isso ocorre porque a sociedade brasileira, que realizou uma transição negociada entre o regime ditatorial e o democrático, deixou praticamente intacto as visões e as instituições voltadas a juventude, vide o caso das FEBENs, estabelecendo práticas autoritárias e mantendo relações sociais de subordinação, as quais só os adultos têm poder, mantendo relações assimétricas.
A juventude ainda é vista como uma fase passageira, sendo assim desvalorizada porque seus projetos a cerca do futuro são compreendidos como provisórios, frutos de um tempo de imaturidade e, portanto, não devendo ser levados a sério. A sociedade pressiona os jovens quanto aos seus projetos futuros, como o que querem ser quando adultos, a juventude, por exemplo, e a juventude em si, no seu momento atual e nas suas ações cotidianas ficam desvalorizadas e por vezes invisíveis. Ao jovem é permitido curtir a vida, não precisando e não devendo assumir responsabilidades, nesse sentido não contribui com o desenvolvimento da sociedade, e com isso a sociedade se isenta de pensar em políticas de juventude, dado que este grupo social é passageiro.
Podemos dizer que juventude é uma fase mais ou menos determinada etariamente da gênese da personalidade, da formação da opinião política, gosto artístico, visões religiosas, aprimoramento da psiquê. É a intermédia de duas etapas do desenvolvimento individual - a heteronomia e a autonomia - consideradas tanto em nível psicossocial (opiniões formadas, gostos apurados, determinações emocionais e profissionais), como econômico (dependência, semidependência e independência financeira).
Mas, juventude também é um grupo social transversal a todos os setores de múltiplas identidades e opressões econômicas, étnicas, culturais, de orientação sexual, de gênero e de condição física. Em cada segmento conformam-se necessidades específicas que se somam às necessidades gerais da condição juvenil, existindo jovens em várias dimensões simultaneamente oprimidos.
Por isso, a juventude é o segmento mais vulnerável e sensível às mazelas engendradas pelo capitalismo, foco condensado de tantas contradições e, por conseqüência, demandas.
Atualmente, observamos que a intensificação de um discurso que trata a participação da juventude como importante o que tem se chamado de “protagonismo juvenil”, tido como o voluntariado. É o jovem engajado para ajudar a amenizar conflitos e desigualdades sociais, associando-os ao trabalho de ONGs que sobrevivem da ideologia do “bom burguês” e sua disposição filantrópica estimulada pelos ganhos fiscais dessa “boa índole” e dos repasses estatais de governos, cujo programa prevê a terceirização das funções estatais e do próprio Estado.
No partido, militância orgânica só nos dias de votação. Juventude não é tática e nem estratégica. É simplesmente o grupo de desocupados, os agitadores de comícios, os pintores de faixas, os ajudantes de alguma eleição de conselho tutelar ou sindicato.
Para nós revolucionários socialistas, o protagonismo juvenil vai além do voluntariado e consiste na formação da juventude enquanto força social sem intermediários para a transformação social e a construção do socialismo democrático.
Dogmática em larga medida, a visão predominante na esquerda revolucionária pode ser sintetizada no seguinte: "a juventude e seus espaços são táticos para a construção do socialismo”. Muitos são os partidos de esquerda que afirmam a juventude como protagonista das principais lutas históricas, momento da vida no qual a ousadia, a rebeldia se manifestam, portanto um setor estratégico para a organização da luta socialista. O problema desta concepção é que se homogeniza a condição juvenil e além de ser um tanto quanto utilitarista dessa “energia para a luta”, acaba por não garantir as especificidades desse momento da vida.
É central para nós do PT, entender que a classe trabalhadora sofre nas últimas décadas uma sucessiva perda de direitos e flexibilização do trabalho e que a juventude vem sendo o setor mais atacado por esse processo.
Muitas das políticas implementadas não ferem os trabalhadores do agora, mas sim os que virão, já que a juventude representa um setor extremamente vulnerável do ponto de vista de sua organização e capacidade de incidir sobre os rumos de seus destinos.
É fácil verificar essa situação, já que na sua maioria os salários dos jovens são os mais baixos, precarizados e as oportunidades geralmente são de trabalho informal sem garantia de direitos, isso quando o jovem consegue entrar no mercado, já que se reproduz o ciclo da inexperiência: as empresas não contratam porque não tem experiência e se não são contratados nunca a terão.
A partir daí, é possível verificar a centralidade que ganha a juventude na organização da luta de classes, temos um contingente enorme de jovens proletários que precisam ser organizados para a luta socialista, mas é central que o partido tenha a capacidade de assegurar espaço para suas reivindicações e demandas que extrapolam as reivindicações do proletariado enquanto classe.
Portanto, é fundamental que tenhamos capacidade de organizar a juventude a partir de suas formas de manifestação e demandas específicas, mas articularmos com a luta dos trabalhadores a fim de garantir os direitos adquiridos, bem como lutar por melhorar as condições de vida do conjunto da classe, assim garantindo maior extração da mais valia social.
Os movimentos culturais juvenis, o ativismo ambientalista, os empreendimentos e cooperativas da economia popular e solidária, o campo da saúde, se mostram como novos espaços de aglutinação e militância de jovens, que devem ser nossos aliados no próximo período. Mais do que isso, é preciso superar práticas que também foram incorporadas pelas nossas direções partidárias e conseqüentemente pela juventude, para que possamos resgatar a esperança e a confiança da juventude e do povo brasileiro na possibilidade de consolidar uma nova cultura política, pautada na democracia, na ética e no respeito às diferenças.
Os nossos desafios são grandes e passam pela construção de canais de diálogos e formação de consensos a partir da diversidade da JPT e da juventude, consolidando um campo amplo, no qual possamos ser a direção política.
Nesse sentido, é importante que além de ampliarmos nossas discussões, possamos estabelecer um diálogo constante, no qual difundiremos a importância da luta pelo socialismo e pela construção de uma anti-hegemonia ao avanço do neoliberalismo.
É preciso que convençamos os jovens da importância da organização coletiva, em conjunto com outros movimentos sociais e a classe trabalhadora por justiça social e solidariedade.
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