quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

“Drogas e Juventude: uma questão com diferentes olhares e formas de ser enfrentada”

Erick Corrêa
Gabriel Medina
Gabriela Palombo
Organizadores do Mapa Municipal da Juventude
Após lermos o Editorial deste domingo (17.06.2007) sobre a relação entre drogas e juventude, nós organizadores da pesquisa “Mapa da Juventude”, nos sentimos responsáveis por apresentar algumas reflexões sobre o tema.
Sabemos que os dados, de natureza quantitativa, necessitam de uma maior reflexão acerca do contexto social do qual eles foram extraídos, preocupando-nos a leitura isolada que pudesse ser feita a partir de seus resultados.
O ponto de partida dessa discussão, acreditamos, são as causas (contextos ou situações) que levam os jovens ao uso de drogas, que não são únicas e fáceis de serem identificadas em nossa sociedade. Uma análise social do “problema” deve considerar as enormes dificuldades que assolam grande parte da juventude brasileira, reflexo da crise de instituições construtoras de identidade como a família, a escola e o trabalho. Os “problemas” de saúde da juventude devem ser vistos como expressão de sua vulnerabilidade frente às dificuldades experimentadas em seu cotidiano. Vale ressaltar que esse contexto gera uma angústia e um sofrimento à nossa juventude que a geração precedente não experimentou com a mesma intensidade.
Cabe ressaltar, um modelo de construção social que busca adaptar o jovem a modelos pré-definidos de inserção na vida adulta, como deve ser seu comportamento, quais seus valores, seu estilo de vida, o que gera uma necessidade de questionamento e contraposição a esses modelos e o uso de drogas ilícitas torna-se uma opção bastante atraente.
É preciso diferenciar as drogas, seus efeitos e prejuízos à saúde, reconhecer que através das indústrias farmacêuticas, do álcool e do tabaco, estimula-se o uso massivo de drogas vendidas legalmente em drogarias e bares. É preciso também reconhecer que pouco tem sido pensado para enfrentar setores economicamente poderosos que exploram o mercado de drogas legais. As campanhas e políticas de combate ao uso de drogas têm sido até o momento ineficientes e pouco criativas, o que em nossa avaliação é reflexo de um desenho institucional equivocado.
Atualmente, a política nacional de drogas vem sendo coordenada pela Secretaria Nacional Anti-Drogas, ligada ao Ministério da Defesa e, portanto, sob um viés bastante conservador e pouco eficiente, conforme já fora dito.
No Mapa da Juventude, inclusive, revelou-se que apenas cerca de 28% dos jovens de Araraquara caracterizam a ação da justiça positivamente, e 82,92% desses jovens avaliam a ação policial como sendo “regular”, “ruim” ou “péssima”. As ações realizadas por essas instituições, de caráter punitivo e repressor, buscam o controle da juventude, que ainda é vista pelo poder público como um período da vida em que se manifestam comportamentos de risco ligados à transgressão da ordem vigente.
Em nossa avaliação, a questão das drogas deve ser pensada pelo Ministério da Saúde, com a criação de um novo órgão executivo federal que enfoque a questão pela ótica da prevenção e promoção de saúde e na redução de danos do usuário.
Localmente, é preciso ouvir a juventude para que possamos desenvolver ações efetivas e estabelecer uma estratégia de inserção e acolhimento da mesma no SUS, de forma a viabilizar atenção e integral e específica às necessidades de saúde de jovens de ambos os sexos, principalmente àqueles que vivem em situação de exclusão social.
Por fim, é mais do que uma política de controle às drogas que a juventude precisa e sim de políticas estruturantes, de caráter emancipatório, que possibilitem aos jovens a construção de projetos de vida saudáveis, de acordo com escolhas responsáveis que favoreçam movimentos em favor da vida.
20.06.2007

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